nada em casa
Nunca mais serei
aquilo que eu fui
E não pedi para ser eu,
nem ninguém
Só me lembro dos brinquedos
e de lutas que perdi,
e amores mal partidos
pelo chão.
E todo o tempo
que jamais terei,
para passar a fazer nada
em casa.
Nada? Minto! Tudo fiz eu,
para não fazer nada
em casa.
Se nada eu fiz,
de nada eu vim,
e eis onde eu tento chegar
Por vários obstáculos
e biscates completos,
eu ganho o meu pão
para comê-lo sentado
Passei tantos verões à espera
dum outono que não ousa vir.
Há mais ouro escondido na prata,
e mais chumbo num lápis de cera
E guitarras que nunca ouviram,
cantam promessas àqueles que perdem
Perdem tudo, mas nunca esperança,
essa janela para mundos mais belos
Onde os gajos e as gajas não gajam
E os tachos dos fachos não rosnam
Onde os teus e os meus não se zangam
E a terra tem tempo para pensar
Mas não tem,
nem eu tenho, de veras.
Muito nada tenho eu para fazer.
Obrigado, caneta, papel,
sal e pimenta,
canela e tal